Gerir sentimentos
A última semana foi bastante difícil, aliás os últimos meses.
No início da
semana a morte bateu-nos à porta, não bateu de surpresa, há tempos que
vinha deixando pistas do inevitável, ganhando terreno ao corpo, para nós
depressa de mais para os médicos dentro da previsão.
Estranho, antes quando ouvia dizer que os médicos previam x tempo
de vida, uma parte de mim duvidava, afinal existem casos que provam o contrário,
as excepções à regra, mas ele não teve essa sorte.
O cancro venceu, um cancro que foi diagnosticado ainda não fez um ano,
a doença da moda dizem uns, com medo de proferir a palavra cancro, como se
fosse contagiosa, os médicos também não a usam directamente, referem mais neoplasia ou carcinoma como se atenuassem a dor
ou sofrimento de quem a vive.
Aprendi muito, aprendemos muito. Quando alguém da família tem
cancro todos temos, não porque vivamos em função da doença, mas porque quando
se orienta medicamentos, os tratamentos de quimio, as consultas, os efeitos colaterais é
impossível desligar.
Chorámos, rimos, rimos quando queríamos chorar, mostrámos animo,
demos força mas chegámos a um ponto em que quem estava doente desistiu, deixou-se
ir apesar das insistências, a força foi fugindo, o riso desapareceu, o olhar
ficou baço, as palavras essas poucas e quase inaudíveis.
Gerir esta dor foi difícil é difícil e mais difícil ainda perceber
que a pessoa que sofre não partilha a dor ou o sofrimento e só perceber isso
nos últimos dias.
Após isto fiquei com outra ideia acerca da eutanásia, e sou a
favor, não à que prolongar mais um dia, uma hora ou minuto a degradação de um
corpo contra uma doença incurável, nestes casos deveríamos poder optar por
partir deste mundo de forma tranquila e sem sofrimento.
Este desabafo serve para ir expurgando a minha cabeça e o meu coração.
3 comentários:
E fazes muito bem, minha querida Dudu, em desabafar.
Deixo-te aqui um abraço apertado, pois também sei bem o desânimo que deixa em toda a família, esta maldita doença, infelizmente.
E sim, compreendemos muito melhor a eutanásia.
Um grande beijinho.
Abraço forte... :(
Para começar, um abraço muito apertado, ainda que virtual.
Depois deixa-me dizer-te que a tua frase "quando alguém da família tem cancro, todos temos" é tão verdadeira, que - pelo menos no IPO de Lisboa - existem centros de apoio aos familiares dos doentes oncológicos.
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