Outono

17 anos e 5 meses depois

A minha filha foi submetida à segunda cirurgia ao coração. Apesar de estarmos serenos, confiantes e cheios de fé ver a cama onde estava entrar pela porta do bloco foi doloroso. A angústia das horas de espera, intermináveis. Um aperto no peito que aumenta, sufoca e nos deixa com medo, muito medo. Pensamentos funestos em catadupa e a culpa a perseguir-me por cada pensamento. Mil orações e promessas. Mas quando o cirurgião aparece e nos diz que correu bem, foram as palavras mais lindas que ouvi, o nó soltou-se, consegui voltar a respirar e desatei num pranto compulsivo durante minutos que me limpou a alma. Não foi fácil vê-la na uci ligada a um ventilador e cheia de tubos, mas quando a vi o coração encheu-se de calor a minha filha estava ali a lutar, como sempre lutou. Já passaram seis dias, e todos os dias há uma coisa nova que consegue voltar a fazer. E como mulher corajosa que é aguenta tudo com um sorriso, o sorriso mais lindo do mundo. AMO a minha filha mais do que tudo e agradeço ao Prof. Dr.Manuel Antunes e a toda a equipa de excelentes profissionais,  pela segunda vez me devolveu a minha filha.

Doutores Palhaços

Em seis semanas de internamento começamos a perceber as rotinas de um hospital e a terça-feira é dia de palhaços. Durante a manhã lá andam eles entre as enfermarias a fazer rir. Fazer rir um publico que às vezes tem vontade é de chorar. Lembro-me numa destas terças-feiras a disposição para os recebermos era zero, a minha filha não estava com paciência e eu idem, mas eles entraram e aos poucos foram tirando-nos sorrisos que viraram risos e acabaram em gargalhadas e a nossa dor e o amargo com que estávamos desapareceu e o dia correu bem melhor.

De manhã li a noticia que a fundadora da Operação Nariz Vermelho, Beatriz Quintella, faleceu espero que o seu projecto perdure e leve a alegria ás crianças que estão hospitalizadas é que rir é meio caminho para a cura.